quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Bandeirantismo

“O bandeirantismo foi produto do descaso com  que Portugal se relacionava com a região do Brasil. Devido ao fracasso da cana-de-açúcar nessa região, a população se dirigiu interior adentro. As condições de vida eram precárias e miseráveis e, uma das saídas foi à exploração do sertão em busca do ouro.
O apresamento de índios para serem vendidos como escravos foi muito bem sucedido, pois sós engenhos do nordeste brasileiro sofriam com a falta de escravos já que o tráfico negreiro havia sido interrompido pela Espanha.
Com a retomada do tráfico os paulistas se acham novamente na crise, a mão-de-obra indígena perde o valor. Essa crise só é superada com a posterior descoberta do ouro, porém este produto passou a ser controlado pela Metrópole mantendo os paulistas na situação de extrema pobreza da qual viviam”.

ü Bandeirantismo

Quando ouvimos o termo “bandeirante” lembramos da imagem dos “heróis brasileiros”, “desbravadores”, “aventureiros”, “construtores épicos do Brasil”; contudo esse ufanismo está abalado na contemporaneidade.
A imagem de “construtores épicos do Brasil”, certamente foi a mais difundida no território nacional, porém a datação dos episódios é imprecisa, fragilizando as afirmações. Devem-se levar em conta, também, as produções historiográficas que surgiram depois da produção bandeirante realizadas sobre o Brasil como Colônia.
A análise dos bandeirantes de São Vicente e São Paulo de Piratininga seu desenvolvimento material e seus limites de movimentação.

ü São Vicente e São Paulo de Piratininga: O cenário histórico do bandeirante

Considerando um sentido mais amplo da colonização brasileira em: grandes latifúndios monocultores, mão-de-obra escrava e comércio externo; São Paulo causou certo impacto ao modelo mais geral. E esse impacto ajuda-nos à compreender o surgimento histórico dos bandeirantes.
A capitania de São Vicente não possuía condições naturais que contribuísse à ação colonizadora: faixa litorânea estreita e a má qualidade do solo eram alguns dos obstáculos encontrados pelo colonizador.
A vila criada em 1535 – São Vicente – não foi alvo de consideráveis alterações e era caracterizada pela precariedade da vida material. Com isso deu-se o processo de ocupação do planalto paulista, deixando São Vicente e Santos em segundo plano e quase foram extintos.
São Paulo possuía condições de defesas favoráveis, que um observador da época relatou em sua frase: “esta terra se pode defender com cem homens de cem mil”. Seis anos depois acrescentaram a São Paulo o vilarejo de Santo André da Borda do Campo, porém as condições naturais também não contribuíam, impedindo o plantio, a pesca e a criação de gado por falta d’água.
Dos colonos que vieram para São Paulo, à maioria era de agricultores, pecuaristas, mercadores e aventureiros em busca de oportunidades na colônia. Agriculturas canavieiras, de subsistência de frutas para doces e a pecuária, consistiram em pontos fortes da colonização. Principalmente a monocultura canavieira.
Já na metade do século XVII nota-se a presença de artigos de luxo, antes não encontrados, que poderia provir da marcha do ciclo de mineração. Mas o traço marcante de escassez não foi apagado.
Ainda na segunda metade do século XVII percebia-se a falta de qualidade de bens e de bens materiais como: escravos, transporte, comunicação, roupas, especiarias, cosméticos, etc. Apesar da mineração o colonizador se desenvolveu num cenário de extrema pobreza, penúria, escassez, etc.
Alguns dizem que São Paulo tinha uma riqueza mediana ou até estável riqueza. Contudo o contexto da construção de São Paulo não é esse, mas o contrário, pobreza extrema. A prosperidade paulistana só foi avistada com a produção cafeeira.
Foi nessa condição particular de São Paulo que surgiu o bandeirante: ensinado a fazer da vida uma “aventura” à caça de escravos nos sertões.

ü As Bandeiras: Solução de urgência para a pobreza paulista

A população de São Paulo não podia contar com um enriquecimento dado pelo empreendimento da colônia. O bandeirante, então, foi o produto de uma região à margem do desenvolvimento. Com a vida sem bens materiais e a vida econômica limitada, eles buscaram lucros rápidos com a caça ao índio, aos metais e as pedras preciosas, sempre em outro quadro que não fosse a agricultura.
O nome bandeiras era de uma denominação militar que servia para defender os colonos, até mesmo dos índios. Contudo os bandeirantes se transformaram em ‘paramilitares’ de ataque; e devido ao processo de militarização ocorrido entre os bandeirantes o governador D. Francisco de Souza aprova a decisão de militarizar os homens de quatorze anos acima, incluindo os índios.
A expedição era comandada por um homem branco que possuía poderes absolutos sobre seus subordinados, escravos e índios. Os índios e escravos eram os “batedores” e “coletores”, o capelão era uma espécie de autoridade espiritual ligado à Igreja, que também era um dos participantes; usado para legitimar a expedição pela Igreja, e o número de membros variava muito, desde quinze homens até centenas.
Os bandeirantes levavam pólvora, machados, balas, cordas – para amarrar os índios apreendidos – sementes, sal e um pouco de alimentos. Comumente partiam na madrugada e pousavam ao entardecer e durante o dia caçavam, pescavam, coletavam frutos, extraiam palmito e mel. Andavam pelas trilhas indígenas e pelos rios com canoas improvisadas.
As viagens duravam meses e até anos, e com toda a prática adquiriram um conhecimento das matas e chegavam a ser “habilidosos como os próprios animais”. Ao que indica, eles caminhavam descalços, chapelão de abas largas, a camisa, a ceroula e os gibões de algodão alcochoados para anteparo das flechas dos índios.
A geografia contribuiu para o movimento dos bandeirantes, devido à posição de São Paulo que era centro fluvial e terrestre ou como a expressão diz: “boca do sertão”. Havia varias passagens dentre rios, córregos, estradas planas, morros e serras que possibilitava a entrada nas minas. Além de tudo, São Paulo possuía contato com o mar, o que após os anos se tornou um canal para fluxo de comunicação e do complemento necessário.

ü Escravidão indígena e violência: O Bandeirantismo de apresamento


Antes da colonização oficial, os colonos praticavam escambo utilizando os “prisioneiros de guerra” nativos. Porém, só quando houve início efetivo da colonização, com a necessidade de mão-de-obra para o trabalho nas lavouras é que levou o colonizador a capturar indígenas.
Apesar de receberem autorização da parte de D. João III para aprisionar os nativos, muitos desses nativos colaboraram espontaneamente. Mesmo com as colaborações indígenas os colonizadores se opuseram à missão jesuíta – que defendia e protegia o índio – com ataques violentos as comunidades e cometendo genocídios em série, fator que levou o índio a evitar contato com o colonizador e se refugiar no sertão.
A função bandeirante era de “ir buscar” os índios nos sertões, contudo o bandeirante usava de violência excessiva e de grande brutalidade. Em 1570 o rei proibiu a cativação do índio, exceto os tomados em uma “guerra justa”.
Outra lei foi em 1591, dando poderes aos padres de ‘buscar’ os índios no sertão e a distribuição deles no litoral. Mas anteriormente e até mesmo depois houve conflitos entre colonizadores, jesuítas e indígenas.
As novas formas de lei, ainda eram burladas pela “manha e malícia” portuguesa, assegurando a mão-de-obra escrava.
Por sua vez o jesuíta introduzia o índio à religião católica, contudo os antigos abusos consistiram em pagamento de tributo e no caso índio deveria ser com força de trabalho, o que acabava sendo como a escravidão. O preceito de ‘guerra justa’ era malicioso, violento e só serviu para legitimar a cativação do índio.
Os bandeirantes da região do Tietê dizimaram os tupiniquins, a partir de então, começou uma nova fase bandeirante caracterizada pela expansão da extensão geográfica do espaço e em conseqüência o aprisionamento em larga escala de índios. Que permitiu os portugueses traficarem escravos indígenas com os espanhóis.
Quanto a disposição das terras, fazia-se loteamentos em que cada família indígena produzia e a safra ia para um armazém comum, que era usado no sustento de padres, funcionários, artesãos e dos que eram sustentados pelo trabalho coletivo. Os colonos divisaram a ordem jesuíta com uma subversão da ordem, em que o índio devia se submeter ao colonizador, que o queria como escravo. Com a união da Espanha com Portugal, sob o comando dos Felipes, a penetração dos bandeirantes foi facilitada e o combate aos jesuítas aumentou o que levou muitos jesuítas a se corromperem e a fazer das missões uma fonte de abastecimento de índios para os colonos.
No entanto os livros sobre história do Brasil não apresentam esse discurso sobre os bandeirantes e cultiva a imagem heróica – salvo alguns poucos manuais –. Alguns historiadores dizem que se vivia em tempos violentos e que as crueldades eram naturais e que se vivia uma política expansionista.
No início da construção historiográfica os relatos dos jesuítas assumiram o segundo plano, pois “havia perdido o seu caráter de denúncia”. Percebe-se um contraste marcante entre os relatos dos jesuítas e dos colonizadores.
Usou-s de muitas formas de dominar os indígenas, o escambo – porém não surtiu grande efeito – a agricultura – que alterou bruscamente o sistema do índio que foi sedentarizado para que ficasse sob domínio do colonizador.
Em geral, desde o início o colonizador não desenvolveu nenhum meio, além de escravizar ou isolar o indígena. E sob as condições em que viviam eles reagiam de três formas: fugas – a mais comum – revoltas  e até mesmo o suicídio.

ü Novas tentativas de fortuna: O ouro das gerais

O período do ouro nas minas gerais está associado ao bandeirantismo, pois São Paulo queria uma nova tentativa de acabar com a extrema pobreza da sociedade, assim a busca pelos metais.
Antes dos grandes achados de metais e pedras preciosas os portugueses já tinham certa convicção de encontrá-los. Quanto a sua localização, imaginava-se que seria próxima das fronteiras, desse modo deveria haver a penetração pelos sertões.
Corriam notícias de alguns achados de ouro e pedras em Porto Seguro e realizaram expedições que foram até as terras da Amazônia, porém não se encontrou grande coisa e os métodos ainda eram rudimentares.
Inicia-se então um período de pesquisa de metais para suprir as dívidas de Portugal como: o tratado de Methuen com a Inglaterra.
As grandes descobertas começaram depois da expedição de Fernão Dias a região onde hoje é Ouro Preto, Mariana. O que ocasionou um grande êxodo, não só de colonos como também de estrangeiros em busca do metal dourado. Enriquecendo, assim, Portugal e alguns poucos “grandes homens”.

ü A questão do herói bandeirante

Muito ainda se ouve a expressão de herói bandeirante, que é apoiada em diversos autores que afirmam a importância do processo dado pelas bandeiras em comunhão com o Estado para o desenvolvimento social, econômico e cultural da colônia.
Contudo sabe-se da violência por eles cometida, a sobreposição de cultura, o interesse mais digno de nome pessoal do que comunitário entre outros fatores.
Como diz o próprio autor, Carlos Henrique Davidoff:
“A rigor – e basta examinar os textos para se criticar – a construção da figura do herói bandeirante só avançou na proporção exata em que se encobriu ou descartou a questão da violência cometida contra grupos locais, abrindo caminho, deste modo, para que se exaltasse a idéia de expansão territorial e heroísmo, desvinculando-a da interpretação de seu verdadeiro contexto histórico e social do século XVII, que necessariamente envolve a consideração do destino que sofreu a população indígena que esteve sob a área de ação das bandeiras.”




Referências: 
DAVIDOFF, Carlos Henrique. Bandeirantismo: verso e reverso. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1998.
Por Bruno Drumond Oliveira

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